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quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Adolescente grávida não ganha abrigo e fica na rua


O caso de Ana*, 16 anos, grávida e moradora de rua, mostra como pode ser difícil conseguir uma vaga em um abrigo público em Curitiba. Nas ruas há quatro meses, a garota não sabe ao certo com quantas semanas está o bebê – ela ainda não fez o pré-natal. A conselheira tutelar do Portão, Rosilei Bastos, responsável pelo atendimento de Ana, acredita que sejam no mínimo seis meses. Com a falta de vagas, a jovem passou dois dias esperando sentada no Conselho. À noite, volta para dormir nas ruas, contrariando o Estatuto da Criança e do Adolescente. A lei diz que a sociedade e o Estado devem garantir com absoluta prioridade para a infância e adolescência o direito à vida, à saúde e à dignidade.
A conselheira tenta convencer Ana a ir para um abrigo desde que a garota foi para debaixo de uma marquise. Nesta semana, a adolescente concordou. Mas descobriu que na cidade há só um local especializado em receber essas jovens, e não há vagas.
Ana tem um longo histórico de passagem pelo Conselho. Há mais de seis anos teve seu primeiro atendimento. Os motivos são maus-tratos da família, negligência e alcoolismo da mãe. “É muito difícil convencer um jovem a sair da rua. Aí, quando ele quer uma vida melhor, não encontra oportunidade”, diz a conselheira.
O diretor de proteção social especial da Fundação de Ação Social (FAS) de Curitiba, Adriano Guzzoni, afirma que as medidas possíveis para garantir os direitos da adolescente foram tomadas. Ele diz que a orientação dada ao Conselho é que Ana fosse encaminhada para o programa Criança Quer Futuro. Lá ela aguardaria uma vaga. “Temos 900 vagas entre abrigos da prefeitura e conveniados, mas todas estão preenchidas”, diz. Guzzoni lembra também que a garota foi encaminhada a um outro abrigo na metade do ano, mas saiu.
Ana afirma que gostaria de ir para um local onde houvesse jovens da sua idade que também tivessem filhos. Ela diz não querer ir para o programa Criança Quer Futuro em razão da falta de segurança e de atendimento especializado para seu caso no local. A menina, ainda com pouca noção da situação que está vivendo, relata que se sentiu estranha quando descobriu a gravidez. “Agora me acostumei, o bebê mexe bastante. Mas é difícil, morei na rua muito tempo e parei de estudar”. Ela tem dois irmãos, de 7 e 9 anos, que estão abrigados. A mãe está hospitalizada pelo excesso de álcool.
A conselheira tutelar Maria Aparecida Cordeiro Rosa, colega de Rosilei, diz que esse caso não é o único. O promotor de Justiça da Infância e da Juventude do Paraná Murillo Digiácomo afirma que essa é a prova de que a rede de proteção está falhando. “Se o primeiro atendimento foi há tantos anos, temos que nos indagar por que a menina continou sofrendo violações de seus direitos.”

Fonte: O Estado do Paraná

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